terça-feira, 11 de março de 2014

2013, a partir do Oscar

Deixe-me começar dizendo o seguinte: 2013 foi um ano absolutamente fabuloso no cinema. De verdade, não tínhamos um ano tão bom assim na produção cinematográfica desde 2010 (a saber, aquele em que foram lançados, entre outros títulos, A Rede Social, Carlos, Ilha do Medo, Bravura Indômita, Scott Pilgrim Contra o Mundo, Toy Story 3, O Escritor Fantasma, Trabalho Interno, A Origem, Cisne Negro, Inverno da Alma e Como Treinar o Seu Dragão). Para se ter uma ideia, onde no ano passado eu dei nota máxima para apenas dois filmes (O Mestre e Amor), esse ano foram nada menos que seis. (Essa é a sua deixa, leitor, para perguntar "E que importância a sua opinião tem em uma generalização tão hiperbólica dessas?". E a minha resposta é: você é que escolheu ler este blog.)

Como prometi há pouco tempo, o ano de 2013 seria coberto em retrospectiva lançada por ocasião do Oscar, utilizando a lista da cerimônia para relembrar os lançamentos que mais marcaram o ano que acabou já faz mais de dois meses. (Sim, eu sou lento. Não julguem.) Bom, o Oscar foi ontem, e por tal razão estou escrevendo isso aqui. Como eu (finjo que) sou um cidadão do mundo, os filmes aqui abordados são aqueles lançados para o público geral em 2013, independente de sua data de estreia no Brasil. Sem mais delongas, comecemos pelo começo.

MELHOR FILME

Quem venceu: 12 Anos de Escravidão

Aqui, entram em conta todos os fatores que contribuem para a qualidade de um filme — o que torna essa uma categoria mais difícil que aparenta, já que um filme com valores de produção baixos e um roteiro magnífico pode ainda assim ter menos mérito no geral do que uma superprodução bem-feita. O meu filme favorito de 2013 foi Ela, sem discussão; o vencedor do Oscar, 12 Anos de Escravidão, é não obstante um filme fantástico cuja vitória não me incomodou nem um pouco. Os outros indicados a Melhor Filme são todos no mínimo muito bons; até mesmo aquele cuja indicação seria o alvo mais óbvio de críticas à Academia — Philomena — é um trabalho sublime, ainda que um tanto aquém do nível altíssimo que o Oscar deveria requisitar na categoria principal. Esse foi um ano muito bom para produções internacionais, em particular para o cinema francês (que, ironicamente, não está representado na categoria de Filme Estrangeiro, à qual chegarei em breve). Os melhores filmes do ano formam uma mistura eclética, indo de dramas sérios a blockbusters surpreendentes, passando por comédias inteligentes, estudos de personagem ácidos, aventuras existenciais e documentários ousados, o que mais uma vez comprova a qualidade da produção de 2013. Tivemos vários filmes que, embora não necessariamente maravilhosos, podem um dia vir a integrar o universo cult, como Frances Ha e Spring Breakers, e até "filmes patrocinados" que se revelaram sólidos, como é o caso de É o Fim e Saving Mr. Banks (eu sei que tem título em português, mas me recuso a utilizá-lo). No geral, como já disse, um grande ano, grande o suficiente para que três filmes que eu realmente adorei (Universidade Monstros, O Lobo de Wall Street e Jogos Vorazes: Em Chamas) nem tenham entrado no meu Top 10 pessoal. Ah, uma nota aleatória: não sei se alguém percebeu, mas esse foi um ano impressionante para produções "baseadas em histórias reais". Só dos 9 indicados ao Oscar, 6 se enquadravam nessa categoria (Trapaça nem tanto, mas enfim). Hollywood está ficando sem ideias?

Quem eu indicaria (em ordem de preferência; indicados ao Oscar sublinhados)

  1. Ela
  2. 12 Anos de Escravidão
  3. Gravidade
  4. Até o Fim
  5. O Ato de Matar
  6. Fruitvale Station - A Última Parada
  7. Nebraska
  8. Short Term 12
  9. O Passado
  10. Azul É a Cor Mais Quente
  11. Jogos Vorazes: Em Chamas
  12. O Lobo de Wall Street
  13. Universidade Monstros
  14. Histórias Que Contamos
  15. Inside Llewyn Davis - Balada de Um Homem Comum
  16. Capitão Phillips
  17. Rush - No Limite da Emoção
  18. A Caça
  19. Trapaça
  20. The World's End (também me recuso a usar o título em português)

MELHOR DIRETOR

Quem venceu: Alfonso Cuarón

Não havia como não premiar Alfonso Cuarón por Gravidade, mas, novamente, o nível da categoria estava bastante alto. Se o mexicano não estivesse no páreo, eu diria que teria ficado feliz com qualquer vitória. Esta é uma categoria interessante porque leva em conta não necessariamente a qualidade da história sendo contada, e sim a forma como ela é contada, o que significa que um filme de qualidade discutível pode ainda assim primar por uma condução criativa e um amplo domínio da linguagem e ser indicado por isso — o que explica, por exemplo, que a única indicação, em 2002, de Cidade dos Sonhos, um filme completamente não-Oscárico, tenha sido Melhor Diretor para David Lynch. Assim, embora o maior mérito ainda seja daqueles que contam uma boa história da melhor maneira possível, essa é uma categoria com bastante espaço para trabalhos mais experimentais, como o de Harmony Korine em Spring Breakers e o de Sarah Polley em Histórias Que Contamos. Ademais, eu adoraria ter visto o nome de Spike Jonze na lista, mas já fico feliz com as outras cinco indicações para o filme.

Quem eu indicaria (em ordem de preferência; indicados ao Oscar sublinhados)

  1. Alfonso Cuarón por Gravidade
  2. Spike Jonze por Ela
  3. Steve McQueen por 12 Anos de Escravidão
  4. J.C. Chandor por Até o Fim
  5. Alexander Payne por Nebraska
  6. Martin Scorsese por O Lobo de Wall Street
  7. Ryan Coogler por Fruitvale Station - A Última Parada
  8. Harmony Korine por Spring Breakers - Garotas Perigosas
  9. Joel e Ethan Coen por Inside Llewyn Davis - Balada de Um Homem Comum
  10. Asghar Farhadi por O Passado
  11. Sarah Polley por Histórias Que Contamos
  12. Paul Greengrass por Capitão Phillips
  13. Ron Howard por Rush - No Limite da Emoção
  14. Paolo Sorrentino por A Grande Beleza
  15. Denis Villeneuve por Os Suspeitos

MELHOR ATOR

Quem venceu: Matthew McConaughey

Essa talvez tenha sido a categoria que melhor refletiu a competitividade absurda de 2013: os cinco indicados foram todos excelentes a ponto de poder facilmente levar a estatueta em um ano mais fraco (2011, por exemplo), e no entanto houve mais uns cinco ou seis, pelo menos, rigorosamente no mesmo nível que eles. Quaisquer cinco escolhas feitas pela Academia inevitavelmente excluiriam uma porção de atores merecedores; se McConaughey, Dern, Ejiofor, Bale e DiCaprio mereceram sem a menor dúvida ter sido indicados, sua nomeação foi feita em detrimento de Hanks, Phoenix, Redford, e ainda outros. 2013, como de costume, trouxe mais produções estreadas por homens do que por mulheres, e, se por um lado isso é uma constatação triste que reflete o machismo ainda impregnado em Hollywood, por outro, deu a um grande número de bons e ótimos atores a possibilidade de brilhar em papéis notáveis, da intensidade honrosa de Mark Wahlberg em O Grande Herói ao desespero doloroso de Mads Mikkelsen em A Caça, da eletricidade contundida de Simon Pegg em The World's End (Pegg talvez merecesse uma indicação em reconhecimento de todo o seu trabalho nas comédias de Edgar Wright) à complexidade surpreendente de Chris Hemsworth em Rush. Vimos até um sucessor à altura de Christopher Reeve tomar as telas na forma de Henry Cavill. Portanto, a diferença entre as posições na lista a seguir é mínima; trata-se de um dos rankings mais difíceis que eu já tive que fazer. (Nota: eu não assisti Forest Whitaker em O Mordomo da Casa Branca, nem Idris Elba em Mandela, nem Benedict Cumberbatch em The Fifth Estate.)

Quem eu indicaria (em ordem de preferência; indicados ao Oscar sublinhados)

  1. Chiwetel Ejiofor por 12 Anos de Escravidão
  2. Joaquin Phoenix por Ela
  3. Robert Redford por Até o Fim
  4. Bruce Dern por Nebraska
  5. Leonardo DiCaprio por O Lobo de Wall Street
  6. Matthew McConaughey por Clube de Compras Dallas
  7. Tom Hanks por Capitão Phillips
  8. Mads Mikkelsen por A Caça
  9. Christian Bale por Trapaça
  10. Oscar Isaac por Inside Llewyn Davis - Balada de Um Homem Comum
  11. Simon Pegg por The World's End
  12. Toni Servillo por A Grande Beleza
  13. Hugh Jackman por Os Suspeitos
  14. Michael B. Jordan por Fruitvale Station - A Última Parada
  15. Chris Hemsworth por Rush - No Limite da Emoção
  16. Mark Wahlberg por O Grande Herói
  17. Ali Mosaffa por O Passado
  18. Henry Cavill por O Homem de Aço
  19. Adam Bakri por Omar
  20. Jude Law por Terapia de Risco

MELHOR ATRIZ

Quem venceu: Cate Blanchett

Sejamos francos aqui: 2013 vai ser mesmo lembrado pela atuação de Cate Blanchett. Seu trabalho em Blue Jasmine é do tipo que só vemos de alguns em alguns anos. E isso não é uma hipérbole: sei que no ano passado tivemos Emmanuelle Riva, no retrasado Meryl Streep, et cetera — mas a primeira contracenava com um ator de presença equivalente à sua, a segunda incorporava uma personagem real; por causa do machismo mencionado anteriormente (e não quero de forma alguma implicar que Amor se enquadre nesse machismo, por favor), raramente temos a oportunidade de ver uma atriz criar uma personagem original tão impositiva com a força e o brilhantismo que Blanchett demonstra na pele de Jasmine. E, no entanto, houve tantas outras atrizes dignas de menção esse ano: Brie Larson crescendo e aparecendo, Sandra Bullock nos lembrando do porquê de ser uma estrela do seu porte (o que ela não fez em Um Sonho Possível), Adèle Exarchopoulos chegando chegando aos 19 anos, Meryl Streep se esbaldando num papel ridiculamente suculento. No geral, apesar de veteranas como Judi Dench e Emma Thompson terem feito ótimos trabalhos como se é esperado delas, eu diria que esse foi o ano das jovens: além das já mencionadas Larson e Exarchopoulos (sim, eu consegui escrever o sobrenome dela de memória duas vezes em um mesmo parágrafo!), tivemos Jennifer Lawrence, que entregou um tour de force merecedor no minimo de uma indicação ao Oscar no igualmente excelente Jogos Vorazes: Em Chamas — o filme e a atriz lamentavelmente fadados ao esquecimento das premiações por serem, hã, mainstream e juvenis demais? (Eu não acho Em Chamas juvenil, mas enfim.) Acho válido apontar, inclusive, que uma atuação em particular me pareceu digna de nota não necessariamente por sua qualidade, e sim pela dúvida que inspirou, pelo menos em mim: Rooney Mara em Terapia de Risco talvez esteja magnificamente complexa, talvez crassamente inapropriada, dependendo do observador. Eu talvez (talvez!) discuta essa e outras controvérsias particulares em um outro especial futuro. Fiquem atentos? Ok, nem eu me convenci agora. (Nota: não vi Antes da Meia-Noite (queria esperar pra ver os dois primeiros antes, e não deu tempo), então não sei sobre Julie Delpy.)

Quem eu indicaria (em ordem de preferência; indicadas ao Oscar sublinhadas)

  1. Cate Blanchett por Blue Jasmine
  2. Jennifer Lawrence por Jogos Vorazes: Em Chamas
  3. Adèle Exarchopoulos por Azul É a Cor Mais Quente
  4. Amy Adams por Trapaça
  5. Brie Larson por Short Term 12
  6. Sandra Bullock por Gravidade
  7. Meryl Streep por Álbum de Família
  8. Judi Dench por Philomena
  9. Bérénice Bejo por O Passado
  10. Greta Gerwig por Frances Ha
  11. Emma Thompson por Saving Mr. Banks
  12. Julia Louis-Dreyfus por Enough Said (novamente, me recuso a usar o título traduzido)

MELHOR ATOR COADJUVANTE

Quem venceu: Jared Leto

O ator coadjuvante mais memorável de 2013 foi Michael Cera interpretando Michael Cera em É o Fim. Achei que fosse melhor tirar isso do caminho logo. Seguindo em frente: assim como ocorreu com Melhor Ator, essa categoria ficou excessivamente movimentada esse ano; poderiam também ter expandido o número de indicados para 10 sem grandes danos. Dessa forma, novamente, a diferença entre os listados é muito pequena, embora aqui eu tenha mais segurança na minha escolha do melhor entre os melhores: Jared Leto está um negócio incrível em Clube de Compras Dallas, tendo recebido um Oscar merecido que coroou uma jovem carreira cinematográfica feita de decisões corajosas (e eu não conheço o trabalho do 30 Seconds to Mars, mas temos que admitir que é difícil fazer sucesso real no cinema e na música). Leto não foi o único a receber reconhecimento ainda que tardio: parece estranho em perspectiva, mas essa foi a primeira indicação ao Oscar de Michael Fassbender, embora ele já tenha se estabelecido há alguns anos como um dos melhores de sua geração; James Gandolfini finalmente recebeu honrarias por uma atuação cinematográfica, e podia (devia?) ter levado uma indicação póstuma da Academia; Benedict Cumberbatch estourou para o público geral com uma penca de atuações invariavelmente memoráveis (é um tanto estranho que nenhuma delas tenha sido lembrada pelas premiações da vida). Abdi e Claflin roubaram a cena, Forte e Coogan fizeram jus à máxima de que bons comediantes saem-se bons atores dramáticos (aguardem Steve Carrell como John Du Pont no ano que se inicia), Hill e Cooper continuaram a revitalização de suas carreiras, Franco e Brühl encontraram papéis que fizessem jus ao seu talento, Gyllenhaal e Rockwell mantiveram seus postos entre os Atores Mais Subvalorizados de Toda a Califórnia, DiCaprio e Sutherland fizeram o que fazem. E, claro, Michael Cera deixou-se drogar, felar e empalar por um poste as himself.

Quem eu indicaria (em ordem de preferência; indicados ao Oscar sublinhados)

  1. Jared Leto por Clube de Compras Dallas
  2. Michael Fassbender por 12 Anos de Escravidão
  3. James Franco por Spring Breakers - Garotas Perigosas
  4. Daniel Brühl por Rush - No Limite da Emoção
  5. Barkhad Abdi por Capitão Phillips
  6. James Gandolfini por Enough Said
  7. Jake Gyllenhaal por Os Suspeitos
  8. Sam Rockwell por O Verão da Minha Vida
  9. Jonah Hill por O Lobo de Wall Street
  10. Leonardo DiCaprio por O Grande Gatsby (sim, ele é coadjuvante)
  11. Bradley Cooper por Trapaça
  12. Will Forte por Nebraska
  13. Donald Sutherland por Jogos Vorazes: Em Chamas
  14. John Gallagher Jr. por Short Term 12
  15. Benedict Cumberbatch por Além da Escuridão - Star Trek
  16. Bobby Cannavale por Blue Jasmine
  17. Steve Coogan por Philomena
  18. Tom Hanks por Saving Mr. Banks
  19. Tahar Rahim por O Passado
  20. Keith Stanfield por Short Term 12
  21. Michael Cera por É o Fim
  22. Benedict Cumberbatch por O Hobbit: A Desolação de Smaug
  23. Tony Danza por Don Jon (Como Não Traduzir Esse Título)*
  24. Sam Claflin por Jogos Vorazes: Em Chamas
  25. Água por Até o Fim (brincadeirinha)


*O nome do filme é mesmo só "Don Jon", embora, só para referência, em português ele tenha ficado "Como Não Perder Essa Mulher". Não é só uma tradução tosca e que assassina a piada perfeitamente traduzível do original em prol de um título genérico e longo demais; o nome em português efetivamente contraria o espírito e a mensagem central do filme.

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE

Quem venceu: Lupita Nyong'o

Pensando bem, as categorias de Ator e Atriz Coadjuvante deveriam ser expandidas para até 10 indicados, porque são, por natureza, categorias que sempre abarcam uma quantidade imensa de bons candidatos e candidatas. Veja só 2013: se é inegável a importância e a justiça de esse ter sido o ano de Nyong'o, nós tivemos diversas atuações de apoio que não ficam devendo muita coisa a ela — a mãe esforçada de Octavia Spencer, a filha impositiva de Julia Roberts, a irmã solidária de Sally Hawkins, a esposa maluca de Jennifer Lawrence. E Nyong'o tampouco foi a única revelação do ano — tivemos Margot Robbie, que capturou nossa curiosidade com sua beleza estonteante para em seguida conquistar nossa atenção com sua surpreendente composição de uma personagem forte, inteligente e madura; Kaitlyn Dever, uma excepcional atriz mirim que, antes relegada a papéis menores em séries de TV, enfim conseguiu deixar sua marca no cinema; June Squibb, atuando no cinema há 23 de seus 84 anos e só agora reconhecida; Selena Gomez, um estande de papelão do Disney Channel que resolveu virar atriz. Várias instâncias, também, de atrizes se desdobrando em papéis marcadamente diferentes: além da já mencionada Dever (que faz um papel pequeno mas significativo em The Spectacular Now), tivemos Amy Adams fazendo a memorável melhor amiga do protagonista de Ela e uma Lois Lane bastante boa, Julianne Moore interptetando mães polarmente diferentes em Don Jon e no remake de Carrie, Carey Mulligan incorporando dois tipos de amor frustrado em Inside Llewyn Davis e O Grande Gatsby. E isso tudo pra não falar daquela que, na opinião do que vos escreve, entregou a melhor performance coadjuvante do ano, e outra quase tão boa quanto: Scarlett Johansson, impecável como a namorada mandona e fútil de Don Jon, e inesquecível como a personagem-título de Ela — o que é ainda mais impressionante se considerarmos que apenas sua voz aparece no filme, algo que também vale para o desempenho delicioso de Helen Mirren como a complexa reitora Hardscrabble em Universidade Monstros.

Quem eu indicaria (em ordem de preferência; indicadas ao Oscar sublinhadas)

  1. Scarlett Johansson por Ela
  2. Lupita Nyong'o por 12 Anos de Escravidão
  3. Octavia Spencer por Fruitvale Station - A Última Parada
  4. June Squibb por Nebraska
  5. Elizabeth Banks por Jogos Vorazes: Em Chamas
  6. Margot Robbie por O Lobo de Wall Street
  7. Léa Seydoux por Azul É a Cor Mais Quente
  8. Julia Roberts por Álbum de Família
  9. Helen Mirren por Universidade Monstros
  10. Sally Hawkins por Blue Jasmine
  11. Jennifer Lawrence por Trapaça
  12. Carey Mulligan por Inside Llewyn Davis - Balada de Um Homem Comum
  13. Jennifer Garner por Clube de Compras Dallas
  14. Scarlett Johansson por Don Jon
  15. Kaitlyn Dever por Short Term 12
  16. Julianne Moore por Don Jon
  17. Selena Gomez por Spring Breakers - Garotas Perigosas (não estou brincando)
  18. Melonie Diaz por Fruitvale Station - A Última Parada
  19. Shailene Woodley por The Spectacular Now
  20. Amy Adams por Ela
  21. Margo Martindale por Álbum de Família

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL

Quem venceu: Ela

Chegamos à categoria mais importante. (Brincadeira.) Melhor Roteiro Original tende a ser a categoria em que a Academia, bem como outras premiações, aproveita para reconhecer o mérito de produções que não se encaixam nos "padrões" de prêmios como Melhor Filme e Melhor Diretor: comédias, thrillers, filmes independentes, animações, estrangeiros, trabalhos incomuns ou inovadores, etc.. Isso tudo, é claro, explica o êxito de Ela, que merecia ter ganhado mais Oscars e tinha admiradores o suficiente para isso, mas era peculiar e aventuroso demais para cair no gosto dos eleitores. A categoria de Melhor Roteiro, novamente, reflete o alto nível da produção em 2013: trata-se, afinal, de uma categoria que só pode, por natureza, englobar pouco mais da metade de todos os filmes lançados durante o ano, e no entanto houve uma pá de títulos que eu ficaria muito feliz se tivessem recebido indicação, muito mais do que as uma ou duas vagas para filmes "diferentes" poderiam dar conta — incluindo Gravidade, que, diálogos pedestres e clichês narrativos à parte, fez um trabalho ótimo na criação de um compacto de tensão ininterrupta e envolvimento emocional profundo ao mesmo tempo em que colocava frases eminentemente citáveis na boca de seus personagens ("Houston, I have a bad feeling about this mission" tem tudo para se tornar um bordão pop). 2013 foi um bom ano para exemplificar o alcance imenso que um bom roteiro pode ter: é possível com ele observar o comportamento humano com um olhar analítico (Nebraska, Inside Llewyn Davis), construir tramas e personagens envolventes e bem-estruturados (Rush, Trapaça), extrair tensão e drama ressonante de situações cotidianas (O Passado, Blue Jasmine), discutir questões profundas e infundi-las com valor emocional (A Caça, Fruitvale Station), ou divertir o espectador de maneira criativa ao mesmo tempo em que o induz a pensar (The World's End, A Grande Beleza).

Quem eu indicaria (em ordem de preferência; indicados ao Oscar sublinhados)

  1. Ela, roteiro de Spike Jonze
  2. Nebraska, roteiro de Bob Nelson
  3. O Passado, roteiro de Asghar Farhadi
  4. The World's End, roteiro de Simon Pegg e Edgar Wright
  5. Inside Llewyn Davis - Balada de um Homem Comum, roteiro de Joel e Ethan Coen
  6. Fruitvale Station - A Última Parada, roteiro de Ryan Coogler
  7. A Caça, roteiro de Tobias Lindholm e Thomas Vinterberg
  8. Rush - No Limite da Emoção, roteiro de Peter Morgan
  9. Até o Fim, roteiro de J.C. Chandor
  10. Trapaça, roteiro de Eric Warren Singer e David O. Russell
  11. Blue Jasmine, roteiro de Woody Allen
  12. Enough Said, roteiro de Nicole Holofcener
  13. Gravidade, roteiro de Alfonso e Jonás Cuarón
  14. A Grande Beleza, história de Paolo Sorrentino & roteiro de Paolo Sorrentino e Umberto Contarello
  15. Clube de Compras Dallas, roteiro de Craig Borten e Melisa Wallack
  16. O Verão da Minha Vida, roteiro de Nat Faxon e Jim Rash
  17. Frances Ha, roteiro de Noah Baumbach e Greta Gerwig
  18. Os Suspeitos, roteiro de Aaron Guzikowski
  19. Don Jon, roteiro de Joseph Gordon-Levitt
  20. Saving Mr. Banks, roteiro de Kelly Marcel e Sue Smith

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO

Quem venceu: 12 Anos de Escravidão

Eu não assisti Antes da Meia-Noite, e isso talvez anule qualquer opinião que eu possa ter sobre o ano de 2013 em matéria de roteiros adaptados. Mas, colocando isso de lado por enquanto (essa postagem inteira será atualizada conforme eu vá assistindo mais filmes de 2013), temos que este foi um ano bastante incomum. O estereótipo para a categoria de Roteiro Adaptado é o completo oposto daquele para a de Roteiro Original. Aqui, têm mais vez os filmes graves, sérios, dramáticos, "importantes", aqueles que a Academia geralmente premia com indicações a Melhor Filme, Diretor, Ator, Atriz. (Para entender melhor do que eu estou falando, depois pesquise quais foram os indicados a Melhor Roteiro Adaptado na 81ª edição.) A razão disso é simples: geralmente, filmes baseados em livros e peças retêm uma certa veia literária/teatral que não se empresta necessariamente a obras humildes e tonalmente leves — o que não é necessariamente bom nem ruim, apenas explica o porquê dessa diferença estilística entre as duas categorias de Roteiro. Esse ano, porém, muitas produções que poderiam parecer se encaixar naquela categoria de "pequenos grandes filmes" foram, na verdade, adaptadas de outros trabalhos. Tal é o caso de Azul É a Cor Mais Quente, dado à luz por uma graphic novel, ou de The Spectacular Now, baseado em um romance pouco conhecido. Short Term 12 foi um drama independente delicado que na verdade é tecnicamente "adaptado" de um curta de mesmo nome, o que também é mais ou menos o caso de É o Fim, o último filme que você esperaria ter sido baseado em algo preexistente. Tivemos continuações satisfatórias na forma de Em Chamas, Além da Escuridão - Star Trek e Universidade Monstros, todas as quais fizeram jus aos ótimos inícios de suas respectivas franquias (e, no caso de Em Chamas e do ainda bastante problemático segundo Hobbit, superaram-lhes). E nada disso quer dizer que não tenhamos tido várias adaptações "estereotípicas" de primeira linha, como 12 Anos de Escravidão, Philomena e Capitão Phillips.

Quem eu indicaria (em ordem de preferência; indicados ao Oscar sublinhados)

  1. 12 Anos de Escravidão, roteiro de John Ridley, baseado no livro de memórias de Solomon Northup
  2. Azul É a Cor Mais Quente, roteiro de Abdellatif Kechiche e Ghalia Lacroix, baseado no romance gráfico de Julie Maroh
  3. Short Term 12, roteiro de Destin Daniel Cretton, baseado em seu curta-metragem
  4. Jogos Vorazes: Em Chamas, roteiro de Simon Beaufoy e Michael DeBruyn, baseado no romance de Suzanne Collins
  5. Universidade Monstros, história & roteiro de Dan Scanlon, Daniel Gerson e Robert L. Baird, baseado nos personagens do filme Monstros S.A., escrito por Pete Docter, Jill Culton, Jeff Pidgeon, Ralph Eggleston, Andrew Stanton e Daniel Gerson
  6. Capitão Phillips, roteiro de Billy Ray, baseado no livro A Captain's Duty: Somali Pirates, Navy SEALS, and Dangerous Days at Sea, de Richard Phillips e Stephan Talty
  7. O Lobo de Wall Street, roteiro de Terence Winter, baseado no livro de Jordan Belfort
  8. Philomena, roteiro de Steve Coogan e Jeff Pope, baseado no livro The Lost Child of Philomena Lee, de Martin Sixsmith
  9. Ernest & Célestine, roteiro de Daniel Pennac, baseado no livro de Gabrielle Vincent
  10. The Spectacular Now, roteiro de Scott Neustadter e Michael H. Weber, baseado no romance de Tim Tharp
  11. É o Fim, história & roteiro de Seth Rogen e Evan Goldberg, baseado no curta-metragem Jay and Seth vs. The Apocalypse, de Jason Stone
  12. Álbum de Família, roteiro de Tracy Letts, baseado em sua peça
  13. Além da Escuridão - Star Trek, roteiro de Roberto Orci, Alex Kurtzman e Damon Lindelof, baseado na série de TV Star Trek, de Gene Roddenberry
  14. O Grande Herói, roteiro de Peter Berg, baseado no livro de Marcus Luttrell e Patrick Robinson

MELHOR FILME DE ANIMAÇÃO

Quem venceu: Frozen

Só houve um campo em que 2013 foi um absoluto aterro sanitário: filmes de animação. Lembra do que eu falei sobre eles bem que poderem expandir certas categorias pra 10 indicados? Então, essa daqui bem que poderia ter sido encurtada pra 3. Foram poucos os filmes perfeitamente assistíveis, e pouquíssimos os que empolgaram. A DreamWorks, que vinha de uma espécie de renascença, decepcionou com o passável Os Croods e o fraquíssimo Turbo, os estúdios "secundários" não emplacaram um único filme bem-sucedido, as continuações obrigatórias foram particularmente fracas (Meu Malvado Favorito 2 foi especialmente decepcionante), e a Disney, que anunciava Frozen como a cereja no bolo de sua recente revitalização artística, lançou em vez disso um filme bonitinho com a cara e o jeito de um musical Disney das antigas e apenas uma ou outra indicação da "modernização" por que o estúdio tem passado com sucessos como Enrolados, Bolt e Detona Ralph. (Não me levem a mal, eu gostei muito de Frozen, é só que eu esperava um Mulan e o que recebi foi mais próximo de um Pocahontas.) Não tendo (embora pretenda) assistido ao Vidas ao Vento de Miyazaki, portanto, eu diria que apenas dois dos filmes lançados esse ano mereceriam figurar no mesmo grupo que vencedores passados como Ratatouille, Os Incríveis, A Viagem de Chihiro e Shrek: o primeiro é o adorável francês Ernest & Célestine, que conta uma história simples mas tocante sobre amizade, papéis sociais e preconceito com técnica admirável e criatividade de sobra, e o segundo, claro, é o belíssimo (de vários jeitos) Universidade Monstros, melhor trabalho da Pixar em anos — tão bom, na verdade, que suaviza um pouco a tristeza de ter que passar um ano sem nenhum lançamento novo do estúdio, que anunciou que adiará a estreia de seu próximo projeto para 2015 por razões criativas (você consegue imaginar a Dreamworks fazendo uma coisa assim?). Que o melhor filme de animação do ano por uma grande margem sequer tenha figurado entre os cinco indicados pela Academia não é apenas absurdo; é pretexto para boicote.

Quem eu indicaria (em ordem de preferência; indicados ao Oscar sublinhados)

  1. Universidade Monstros
  2. Ernest & Célestine
  3. Frozen - Uma Aventura Congelante
  4. Os Croods
  5. Tá Chovendo Hambúrger 2
  6. Reino Escondido
  7. Turbo
  8. Meu Malvado Favorito 2

MELHOR FILME ESTRANGEIRO

Quem venceu: A Grande Beleza

Aviso de antemão que esta é a categoria em que, pelo menos por ora, eu tenho menos condição de opinar com propriedade. Por quê? Porque assisti a apenas 7 das centenas de filmes em língua não-inglesa lançados em 2013, e, desses 7, só 4 eram tecnicamente elegíveis para o Oscar. Pretendo fazer com que essa situação mude no futuro próximo, claro, e conforme o faça, atualizarei esta postagem, o que é a razão pela qual eu não vou escrever um texto muito grande aqui. Só digo o seguinte: Asghar Farhadi, que já havia feito talvez um dos melhores filmes dessa década (A Separação), conseguiu chegar muito perto de repetir o feito, e lançou em O Passado um trabalho que confirma a sua habilidade exímia como diretor e roteirista de histórias humanas, discretas e profundamente complexas, não importando o cenário — poucos são os diretores que conseguiriam transitar tão fluentemente entre uma história ambientada no Irã e outra em plena França. A França, por sinal, teve um ano ótimo — além do filme de Farhadi, tivemos o surpreendentemente bem-sucedido Azul É a Cor Mais Quente, que merecidamente acumulou fãs, prêmios e polêmicas no caminho para se tornar um dos filmes mais debatidos de 2013, sem falar no já mencionado Ernest & Célestine e em obras que eu ainda não tive a oportunidade de assistir, como Stranger by the Lake e Dentro da Casa. Tivemos o ótimo dinamarquês A Caça, o belo italiano A Grande Beleza, e outros filmes bem-sucedidos vindos de mercados como a China, o Chile, a Palestina, o Japão, o Camboja, Hong Kong, a Arábia Saudita e a Bélgica. Mesmo o próprio Brasil obteve uma parcela rara de sucesso internacional com o elogiado O Som ao Redor, que, ao contrário de outras recentes inscrições brasileiras para o Oscar de melhor filme estrangeiro, realmente foi lançado comercialmente nos EUA. E eu paro o meu texto aqui para que ele possa ser melhor desenvolvido ao longo dos próximos dias, semanas, sei lá.

Quem eu indicaria, até agora, se o Oscar não tivesse aquela regra idiota de "só um filme por país" (em ordem de preferência; indicados ao Oscar sublinhados)

  1. O Passado (Irã)
  2. Azul É a Cor Mais Quente (França)
  3. A Caça (Dinamarca)
  4. A Grande Beleza (Itália)
  5. Ernest & Célestine (França)
  6. Omar (Palestina)
  7. O Grande Mestre (Hong Kong)

MELHOR DOCUMENTÁRIO

Quem venceu: A Um Passo do Estrelato

Mais uma categoria em que eu não assisti quase nada. E olha que eu passei as semanas antes do Oscar assistindo a uma média de 2 ou 3 filmes por dia. Mas não seja por isso; afinal, o que importa aqui é o seguinte: O Ato de Matar não foi apenas um grande documentário, mas um grande filme e ponto, pela coragem, habilidade, inventividade e inteligência com que enfoca não só um grupo de antigos assassinos participantes no genocídio "anti-comunista" empreendido pela ditadura que assolou a Indonésia nos anos 60, mas também a sociedade contemporânea indonésia como um todo, no que foi um dos filmes mais aterradores, instigantes e intelectualmente complexos de 2013. Também mereceu destaque o incrivelmente criativo Histórias Que Contamos, uma ventura experimental e hiper-meta em que a diretora Sarah Polley uniu depoimentos, vídeos caseiros e histórias de sua própria família para contar a história perdida de sua mãe, utilizando-a como ponto de partida para uma reflexão sobre a memória, o processo de contar histórias, e a grandeza da existência humana. Houve ainda a revolta inspirada por Blackfish, um filme que marcou mais pela potência inegável de seus temas do que por ser especialmente notável como cinema, o charme humanista de Cutie and the Boxer, e o entretenimento com alma e cérebro proporcionado pelo feel-good A Um Passo do Estrelato, que ganhou o Oscar mais por ser completamente irresistível do que por mérito artístico propriamente dito. (Nota: eu não assisti The Square, sobre o processo revolucionário do Egito durante a Primavera Árabe, e ele foi apontado como um dos melhores filmes do ano por muita gente, então não estranhem a sua ausência na lista. Se bem que, até aí, eu podia listar mais uns 10 documentários que devia ter visto e não vi.)

Quem eu assisti (em ordem de preferência; indicados ao Oscar sublinhados)

  1. O Ato de Matar
  2. Histórias Que Contamos
  3. A Um Passo do Estrelato
  4. Cutie and the Boxer
  5. Blackfish - Fúria Animal

MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO

Quem venceu: O Grande Gatsby

É claro que O Grande Gatsby ia ganhar. Não existia outra possibilidade. Não consigo imaginar por que eu apostei em Gravidade, na possibilidade de a Academia considerar o fator de função narrativa e artística do design de produção antes do fator "Nossa, que bonito". Grande parte dos que votam na categoria são leigos, afinal. (Não estou exagerando: apenas uma pequena parcela da Academia é composta por designers, e a eleição final dos vencedores de todas as categorias é aberta para todos os membros.) Não que o design de O Grande Gatsby seja inapropriado ou incompetente; é exuberante, a bem da verdade, e o seu excesso constante e meio anacrônico condiz perfeitamente com o tema central do filme e com a abordagem espalhafatosa de Baz Luhrmann. Mas, em termos de qualidade, atenção aos detalhes, eficácia narrativa (CLAUSTROFOBIA!!!) e harmonia dos elementos que compõem o design (e que não se resumem a cenários e decorações), Gravidade é o trabalho superior. E nem seria o meu voto: na sincera opinião deste semi-crítico, Ela foi o grande feito de design em 2013, compondo uma das visões de futuro mais simultaneamente plausíveis e deslumbrantes do cinema em muitos anos. Esse ano, tivemos menos trabalhos que primaram majoritariamente pela recriação de época, já que boa parte dos mais memoráveis foi vista em fantasias (A Desolação de Smaug, Em Chamas, Frozen, Além Da Escuridão - Star Trek, O Homem de Aço). E se o maior destaque nesse primeiro grupo foi o inacreditavelmente minucioso 12 Anos de Escravidão, tivemos também trabalhos como aqueles feitos em Saving Mr. Banks, Trapaça e Inside Llewyn Davis — o primeiro bem-feitinho, o segundo vibrante, e o terceiro profundamente imersivo. Ainda tivemos, em 2013, a oportunidade de ver, de várias maneiras diferentes, como um bom design pode ser eficaz e determinante em um filme sem necessariamente chamar muita atenção — Ela é o expoente nesse sentido, mas houve também obras como O Lobo de Wall Street e Spring Breakers, cujos designs contribuíram para revelar mais sobre a natureza apodrecida dos personagens e simultaneamente estabelecer seus universos peculiares, Até o Fim, que, em sua recriação detalhada do interior de um iate, ainda teve parte integral no minimalismo com que o filme define o personagem de Robert Redford, e The World's End, cujo desenho de produção revelou-se bastante complexo, passando por momentos de recriação de época e outros de ficção científica e especulação ao mesmo tempo em que concebia os vários ambientes de uma cidadezinha inglesa perdida no tempo, incluindo-se aí 12 pubs distintos. (Nota: não vi Oz - Mágico e Poderoso. Sei lá se isso importa.)

Quem eu indicaria (em ordem de preferência; indicados ao Oscar sublinhados)

  1. Ela
  2. Gravidade
  3. O Grande Gatsby
  4. 12 Anos de Escravidão
  5. O Hobbit: A Desolação de Smaug
  6. Frozen - Uma Aventura Congelante
  7. Jogos Vorazes: Em Chamas
  8. The World's End
  9. Trapaça
  10. Além da Escuridão - Star Trek
  11. Inside Llewyn Davis - Balada de um Homem Comum
  12. O Lobo de Wall Street
  13. Saving Mr. Banks
  14. Até o Fim
  15. O Homem de Aço
  16. Spring Breakers - Garotas Perigosas
  17. O Grande Mestre
  18. Rush - No Limite da Emoção
  19. O Cavaleiro Solitário
  20. Círculo de Fogo

MELHOR FOTOGRAFIA

Quem venceu: Gravidade

Tivemos pelo menos um trabalho objetivamente revolucionário de fotografia em 2013, que foi o de Emmanuel Lubezki em Gravidade. (Vale apontar que, pelo 5º ano consecutivo, o filme vencedor de Melhor Fotografia foi também o vencedor de Melhores Efeitos Visuais. Tire suas próprias conclusões.) Dito isso, eu vou tirar logo do caminho a minha opinião pessoal mais peculiar, e que explica uma presença talvez estranha para o leitor na lista abaixo: Universidade Monstros foi o filme de animação com o melhor trabalho de iluminação digital e renderização da história. Por isso e porque animações costumam ser inexplicavelmente ignoradas nas categorias técnicas, eu teria ficado enormemente feliz se o trabalho absolutamente esplêndido da Pixar neste filme tivesse sido reconhecido por um sindicato, uma associação de críticos que fosse. O que não aconteceu, por motivos além da minha compreensão. Menos mal que o trabalho virtuoso do sempre excelente Roger Deakins em Os Suspeitos tenha sido reconhecido com uma indicação, e que filmes igualmente inspirados em sua concepção visual, como Inside Llewyn Davis e o honconguês O Grande Mestre (cujas câmeras-lentas e close-ups extremos são nada menos que hipnóticos), também tenham sido lembrados. Foi estranha, porém, a ausência de 12 Anos de Escravidão na lista, já que o trabalho realizado no filme se encaixa perfeitamente no gosto da Academia — clássico, paisagesco, rico em detalhes, pontuado por contraluzes e chiaroscuros, alternando com fluência entre ambientes internos e externos. Gostaria também de ter visto Ela entre os indicados — a sensibilidade com que o filme emprega as diferenças de foco e sua paleta quente e forte é algo extraordinário — e considero que Spring Breakers teve a fotografia mais plasticamente inventiva do ano (depois de Gravidade, claro), emulando, através de uma saturação extrema e de movimentos de câmera liberais, uma espécie de sonho febril filmado com um iPhone. Em tempo: a forma como Até o Fim utilizou luzes e ângulos para evocar a angústia dos fenômenos físicos e naturais que aterram o protagonista foi magnífica, A Grande Beleza soube fotografar a beleza de Roma com bastante tato, e fiquei surpreso com a beleza e o nível técnico do trabalho de Amir Mokri em O Homem de Aço.

Quem eu indicaria (em ordem de preferência; indicados ao Oscar sublinhados)

  1. Gravidade
  2. Universidade Monstros
  3. Os Suspeitos
  4. 12 Anos de Escravidão
  5. Spring Breakers - Garotas Perigosas
  6. Ela
  7. Inside Llewyn Davis - Balada de um Homem Comum
  8. O Grande Mestre
  9. Nebraska
  10. Capitão Phillips
  11. Até o Fim
  12. O Homem de Aço
  13. O Grande Gatsby
  14. Rush - No Limite da Emoção
  15. A Grande Beleza

MELHOR FIGURINO

Quem venceu: O Grande Gatsby

Aqui começam as categorias em que eu falo mais como entusiasta do que outra coisa, porque, bom, eu não sei muita coisa sobre figurinos. Só posso mesmo avaliá-los, e ainda assim não com muita propriedade, em questão de criatividade, variedade, nível de detalhe, apropriação à proposta do filme e outras competências mais perceptíveis. Nesses quesitos, os melhores do ano foram mesmo O Grande Gatsby e Em Chamas, não há dúvida; parece, porém, que a figurinista de 12 Anos de Escravidão, Patricia Norris, se deu ao trabalho de criar vestimentas específicas para cada um das dúzias de figurantes do filme (para ressaltar o ponto de que cada escravo é um indivíduo único), e de alterar sutilmente os detalhes da moda trajada pelos personagens mais bem-vestidos conforme os 12 anos titulares se passam, o que, convenhamos, é muito trabalho. Por esse motivo eu não teria como dar o prêmio pra ninguém que não fosse ela. Os outros dois indicados, no entanto, são outra história — e se novamente gostaria que a moda popular criada para o futuro visionado por Ela tivesse recebido algum reconhecimento, esse não foi o único outro trabalho notável do ano. Tivemos Trapaça, cujos personagens multifacetados foram agraciados com uma seleção de roupas igualmente complexa que ainda fez um ótimo trabalho de ressaltar o excesso que permeia a visão de David O. Russell do final dos anos 70, Blue Jasmine, que utilizou seus figurinos para raro efeito cômico ao contrapor o luxo do guarda-roupa de Jasmine com a simplicidade das novas pessoas em sua vida, Além da Escuridão - Star Trek, que continuou o ótimo trabalho do filme anterior de revitalizar os uniformes clássicos da série, além de ter concebido discretamente uma aparatosa moda futurista para a população da Terra, Saving Mr. Banks, que, trabalhando em períodos diferentes, teve sucesso na reprodução de época e ainda afinou os figurinos às personalidades dos personagens, e, claro, Spring Breakers, que nos apresentou a toda uma fascinante gama de biquínis fosforescentes. (Nota: adivinhem? Não assisti o indicado ao Oscar A Mulher Invisível (nem mesmo aquele outro com o Selton Mello), nem Oz, nem Segredos de Sangue, nem A Vida Secreta de Walter Mitty. Suspiro.)

Quem eu indicaria (em ordem de preferência; indicados ao Oscar sublinhados)

  1. 12 Anos de Escravidão
  2. Jogos Vorazes: Em Chamas
  3. O Grande Gatsby
  4. Trapaça
  5. Ela
  6. Além da Escuridão - Star Trek
  7. O Hobbit: A Desolação de Smaug
  8. Saving Mr. Banks
  9. Blue Jasmine
  10. O Grande Mestre
  11. Nebraska
  12. Spring Breakers - Garotas Perigosas
  13. Inside Llewyn Davis - Balada de um Homem Comum

MELHOR MONTAGEM

Quem venceu: Gravidade

Acabei de me dar conta de que eu incluí "Melhor Montagem" na minha listinha como uma categoria em potencial para um total de 32 filmes. Isso é mais do que o total de dias em um mês! E isso só pode significar uma coisa: muitos thrillers lançados em 2013. Ou isso, ou eu fui meio conivente. (Ok, acho que eu fui conivente: A Grande Beleza era um dos 32.) Mas o leitor pode ficar tranquilo, pois, antes mesmo de ele ter tido a oportunidade de ler essa publicação, o autor deu-se ao trabalho de diminuir a lista para um total relativamente enxuto de 25. (Sim, 25 foram os filmes cuja montagem eu considerei digna de menção esse ano.) Fiquei feliz com a vitória de Gravidade no Oscar, e não teria me incomodado se o prêmio tivesse ido para Capitão Phillips. O que realmente me incomodou foi a ausência de indicação para Rush. Como se não bastasse a omissão de Daniel Brühl, a Academia ainda ignorou o que o ótimo filme de Ron Howard tinha de melhor, e considerou que Clube de Compras Dallas, de todos os filmes, foi mais bem-editado. Paciência. Esse ano, novamente chamou atenção a montagem do filme da vez da "Trilogia Cornetto" (a saber, as três comédias de gênero britânicas dirigidas por Edgar Wright e estrelando Simon Pegg e Nick Frost), The World's End, que traz em vários momentos a marca pessoal de Wright de cortar com ligeirez e lançar mão de raccords para condensar ações e sublinhar rimas visuais. Gostei também de Don Jon, em que os cortes rápidos, precisos e inspirados que ressaltam o déficit de atenção do protagonista gradualmente dão lugar a tomadas mais longas e transições menos abruptas conforme este amadurece, e seria negligência não mencionar o uso que Fruitvale Station faz de sua montagem seca e dinâmica para retratar com o máximo possível de efeito dramático o já bastante revoltante clímax. Filmes como Trapaça, Em Chamas e Os Suspeitos tiveram trabalhos de edição irrepreensivelmente eficazes e que contribuíram imensamente para a fluidez de suas tramas, enquanto outros como Histórias Que Contamos, Ela e Spring Breakers utilizaram montagens inusitadas com propósitos criativos variados. (Nota: não vi Alabama Monroe, afamado pela suposta eficiência estrutural de sua narrativa não-linear, então... é. Não está na lista.)

Quem eu indicaria (em ordem de preferência; indicados ao Oscar sublinhados)

  1. Gravidade
  2. Capitão Phillips
  3. Rush - No Limite da Emoção
  4. Don Jon
  5. Fruitvale Station - A Última Parada
  6. Histórias Que Contamos
  7. Ela
  8. The World's End
  9. Trapaça
  10. Até o Fim
  11. Jogos Vorazes: Em Chamas
  12. Frances Ha
  13. O Passado
  14. Os Suspeitos
  15. 12 Anos de Escravidão
  16. Spring Breakers - Garotas Perigosas
  17. O Ato de Matar
  18. Além da Escuridão - Star Trek
  19. O Lobo de Wall Street
  20. A Caça
  21. Azul É a Cor Mais Quente
  22. O Grande Herói
  23. Guerra Mundial Z
  24. Nebraska
  25. O Grande Gatsby

MELHOR MAQUIAGEM E PENTEADO

Quem venceu: Clube de Compras Dallas

Essa costuma ser a categoria que inspira mais indiferença (não existe quase nenhum prêmio precursor, para se ter uma ideia), porque diz respeito a um ofício que, além de muito difícil de avaliar e julgar, dificilmente tem presença marcante em mais de 9 ou 10 filmes por ano. Além disso, os filmes cujo trabalho de maquiagem e penteado chega a empolgar costumam ser inexplicavelmente ignorados pela Academia (Distrito 9 em 2009, Alice no País das Maravilhas em 2010, A Viagem no ano passado). Em 2013, não tivemos nenhum filme cujo departamento de maquiagem foi particularmente digno de aplauso — exceção feita, talvez, a Vovô Sem Vergonha, que eu na verdade não assisti — e, não à toa, o vencedor do Oscar foi simplesmente aquele considerado o melhor filme entre os três indicados. Não que a maquiagem de Clube de Compras Dallas não seja boa; é ótima, e se eu tivesse que escolher um filme a ser premiado aqui, seria ele ou o não-indicado Em Chamas. Mas não houve, esse ano, nada que fizesse o espectador pensar "Nossa, como foi que eles fizeram isso?" da mesma forma que vencedores passados como O Labirinto do Fauno, Desventuras Em Série, O Curioso Caso de Benjamin Button e Piaf - Um Hino Ao Amor. Não seria, em suma, um ano que inspiraria essa categoria a ser criada caso ela ainda não existisse. Mas vamos lá: o trabalho feito em O Cavaleiro Solitário foi bastante competente, mesclando maquiagem protética razoavelmente elaborada com penteados de época cuidadosos, e trabalhos como O Grande Herói, Os Suspeitos, Rush e o próprio Em Chamas serviram para lembrar da importância da maquiagem bem-feita na recriação de cenários fisicamente perturbadores. E Trapaça talvez devesse ter sido indicado porque nada foi mais marcante nele do que aquelas perucas doidas. (Nota: além de Vovô Sem Vergonha, também não vi O Mordomo da Casa Branca nem João e Maria - Caçadores de Bruxas. Em minha defesa, ninguém assiste filmes só pela possibilidade de eles terem maquiagem boa.)

Quem eu indicaria (em ordem de preferência; indicados ao Oscar sublinhados)

  1. Jogos Vorazes: Em Chamas
  2. Clube de Compras Dallas
  3. O Cavaleiro Solitário
  4. Trapaça
  5. O Grande Herói
  6. O Hobbit: A Desolação de Smaug
  7. Rush - No Limite da Emoção
  8. O Grande Gatsby
  9. Os Suspeitos

MELHOR MÚSICA INCIDENTAL ORIGINAL

Quem venceu: Gravidade

Eu sei, eu sei, todo mundo chama isso de "Melhor Trilha Sonora", mas trilha sonora é uma coisa, música incidental é outra e esse prêmio é para música incidental e ponto. E nesse quesito, os melhores do ano foram indubitavelmente Ela e Gravidade. O primeiro trouxe uma espécie de orquestra pós-moderna que, sob a tutela talentosíssima do Arcade Fire, alcançou alturas incomuns até para composições "alternativas" e sublinhou com maestria a doce melancolia do filme; o segundo foi quase tão original ao utilizar a fluidez permitida pelo espaço para criar uma trilha idílica e angustiante em partes iguais. Marcou presença ainda a simplicidade agridoce do trabalho de Mark Orton em Nebraska, uma rara trilha incidental praticamente toda acústica, e o experimentalismo de Até o Fim, que, apesar de por vezes inusitado musicalmente, não poderia ter dado melhor conta dos sentimentos conflituosos do único personagem em cena. Experimentais também foram os trabalhos de Cliff Martinez em Spring Breakers, no qual ele assinou uma parceria improvável com o DJ Skrillex, de Jóhan Jóhannsson em Os Suspeitos, cuja atmosfera incansavelmente tensa deve-se em grande parte às cordas livres e soturnas, e — em menor grau — de Hans Zimmer em O Homem de Aço, que, assim como trabalhos anteriores do compositor, demonstrou uma criatividade musical surpreendente para um filme de gênero de seu porte. Zimmer, por sinal, teve um ano e tanto: além do Super-Homem, musicou também as histórias de Solomon Northup, num trabalho atipicamente contido e melancólico que merecia ter sido indicado ao Oscar, e de James Hunt e Niki Lauda, em um amálgama de temas velozes e furiosos à base de baixo e guitarra que comprovaram a sua imensa versatilidade. No mais, veteranos como Alexandre Desplat e Thomas Newman fizeram trabalhos notáveis como se espera deles, embora eu não tenha certeza se foram suficientes para que eles merecessem suas indicações ao Oscar, e a Disney reviveu, com o ótimo trabalho de Christophe Beck em Frozen, sua tradição de conciliar boas trilhas incidentais e canções. (Nota: não assisti A Menina que Roubava Livros, mas sou capaz de apostar que sua trilha só foi indicada porque John Williams.)

Quem eu indicaria (em ordem de preferência; indicados ao Oscar sublinhados)

  1. William Butler e Owen Pallett por Ela
  2. Steven Price por Gravidade
  3. Mark Orton por Nebraska
  4. Hans Zimmer por 12 Anos de Escravidão
  5. Alex Ebert por Até o Fim
  6. Hans Zimmer por Rush - No Limite da Emoção
  7. Jóhan Jóhannsson por Os Suspeitos
  8. Alexandre Desplat por Philomena
  9. Cliff Martinez e Skrillex por Spring Breakers - Garotas Perigosas
  10. Thomas Newman por Terapia de Risco
  11. Hans Zimmer por O Homem de Aço
  12. Thomas Newman por Saving Mr. Banks
  13. Christophe Beck por Frozen - Uma Aventura Congelante
  14. Henry Jackman por Capitão Phillips
  15. Michael Giacchino por Além da Escuridão - Star Trek

MELHOR CANÇÃO ORIGINAL

Quem venceu: "Let It Go", de Frozen

Serei direto: eu não achei "Let It Go" tudo isso. Eu gostei dela, gostei da Idina Menzel (ou seria Adele Dazeem?) cantando e adorei a cena em que ela toca no filme, mas, musicalmente, ela não foi, nem de longe, a minha favorita do ano (nem do filme: eu pessoalmente considero "Fixer Upper" e "Do You Want to Build a Snowman?" canções superiores). Além de ser um tanto genérica (tire os efeitos sonoros e as referências ao frio, e ela pode quase ser confundida com qualquer balada que fez sucesso nos últimos 20 anos), é uma canção estruturalmente fraca, que abusa um pouco da teatralidade e se apoia quase inteiramente nos agudos reconhecidamente impressionantes de Menzel para causar impressão. Talvez tenha merecido vencer com base no fato de ter sido, sem discussões, a canção que mais marcou o cinema em 2013 — mas, avaliando apenas a música, a indicação já foi bastante. Por outro lado, a linda, bonita e maravilhosa "Amen", parte da trilha excelente de Alex Ebert para Até o Fim, sequer foi lembrada por qualquer das premiações da temporada, e a também ótima "Young and Beautiful", melhor coisa de O Grande Gatsby, não conseguiu confirmar seu favoritismo para uma indicação. Menos mal que "The Moon Song", de Ela, minha favorita do ano, tenha ficado entre as quatro finalistas, e que a inelegibilidade técnica de "Please Mr. Kennedy" (considerada parecida demais com outras músicas folk dos anos 60 ou qualquer babaquice assim) tenha gerado merecidos protestos vocais. As outras duas indicadas, "Happy" e "Ordinary Love", são bem pouco memoráveis, tanto como músicas isoladas como no contexto de seus filmes (a primeira tem uma letra sofrível que nada tem a ver com o filme exceto o fato de acompanhar uma montagem musical na qual Gru está muito feliz, e a segunda, apesar de realmente composta com a figura de Nelson Mandela em mente, é a típica "isca para Oscar" incluída nos créditos finais apenas para que o filme tenha uma chance a mais de indicação), mas ainda são cativantes e distintas o suficiente para que a sua indicação tenha sido mais apropriada do que a de muitas canções indicadas em anos recentes. Além de Lana Del Rey (que fez "Young and Beautiful"), artistas populares como Taylor Swift, Coldplay e Ed Sheeran foram convocados para compor temas para filmes de grande exposição, com níveis variáveis de sucesso — e, se a minha favorita dessas "encomendas" foi "Last Mile Home", lindo trabalho do Kings of Leon para Álbum de Família, não posso dizer que ela merecia ter sido indicada ao Oscar, tão dolorosamente óbvia foi a intenção Oscarfágica por trás de sua inclusão nos créditos do filme. No sentido oposto, tanto 12 Anos de Escravidão quanto Short Term 12 tiveram canções curtas, simples, e que, apesar de não especialmente notáveis ou originais como música, fizeram um impacto infintamente maior do que a imensa maioria das papa-Oscar ao serem entoadas pelos personagens em cena com real propósito narrativo. Se todas as canções que concorressem ao Oscar seguissem esse modelo, teríamos aqui um prêmio bem mais interessante. (Nota: não vi muitos dos filmes listados a seguir, mas a maioria deles traz a canção apontada só nos créditos, então não é como se o seu impacto no filme fizesse muita diferença na qualidade e no mérito das canções em si mesmas.)

Quem eu indicaria (em ordem de preferência; indicados ao Oscar sublinhados)

  1. "The Moon Song", de Ela
  2. "Amen", de Até o Fim
  3. "Young and Beautiful", de O Grande Gatsby
  4. "Let It Go", de Frozen - Uma Aventura Congelante
  5. "Please Mr. Kennedy", de Inside Llewyn Davis - Balada de um Homem Comum
  6. "I See Fire", de O Hobbit: A Desolação de Smaug
  7. "Stay Alive", de A Vida Secreta de Walter Mitty
  8. "Fixer Upper", de Frozen - Uma Aventura Congelante
  9. "My Lord Sunshine (Sunrise)", de 12 Anos de Escravidão
  10. "Atlas", de Jogos Vorazes: Em Chamas
  11. "Last Mile Home", de Álbum de Família
  12. "So You Know What It's Like", de Short Term 12
  13. "Do You Want to Build a Snowman?", de Frozen - Uma Aventura Congelante
  14. "Ordinary Love", de Mandela
  15. "Happy", de Meu Malvado Favorito 2

MELHOR EDIÇÃO DE SOM

Quem venceu: Gravidade

Muita gente questiona a necessidade de haver duas categorias de som, mas há um motivo bom para isso. Explicando: nessa categoria, são avaliados o design de som e a edição dos efeitos sonoros, enquanto a categoria de Melhor Mixagem diz respeito à captura de áudio, à distribuição do som pelos canais e à qualidade geral de todo o aspecto fonético do filme. Assim, um filme como Gravidade é um vencedor inevitável na primeira das duas, já que a maior parte do seu complexo som diegético é produzida artificialmente, o que implica, claro, numa dificuldade imensa — e quem tiver visto o filme saberá que os técnicos de som fizeram um trabalho impecável, registrando com perfeição a forma peculiar como o som se comporta no espaço (nota-se, por exemplo, o respeito ao princípio físico que impede que o som se propague no vácuo). Essa foi, por sinal, a categoria em que eu cheguei mais perto de concordar plenamente com as escolhas da Academia; todos os 5 filmes indicados são trabalhos excelentes de desenho, produção e edição de som, e, se eu pessoalmente teria indicado Universidade Monstros (que, por ser uma animação, teve todo o seu som criado a partir do zero, além de primar por um design sonoro bastante criativo), entendo a decisão dos votantes de laurear Capitão Phillips em vez disso. Também teria ficado feliz com algum reconhecimento a Ernest & Célestine, que, além da já mencionada dificuldade imediata que enfrenta como filme animado, utilizou muito bem o som para ajudar a contar sua história — perceba, por exemplo, como os sons que acompanham as ações do urso Ernest tendem a ser mais altos, bruscos e surdos, enquanto os da ratinha Célestine são delicados, sutis e pequenos. O desenho de som também foi um ponto alto de Spring Breakers, embora neste tenha sido um tantinho óbvio, e de Rush, com suas extensas sequências de corrida. (Nota: eu ainda não vi O Som ao Redor nem Upstream Color, ambos elogiados pelo seu design de som. Ah, e Círculo de Fogo é uma omissão intencional da lista a seguir. Por melhores que sejam os efeitos sonoros das batalhas entre os kaiju e os jaeger, o desenho de som do filme demonstrou uma incompetência pontual inacreditável. A chuva não faz barulho, por exemplo.)


Quem eu indicaria (em ordem de preferência; indicados ao Oscar sublinhados)

  1. Gravidade
  2. O Hobbit: A Desolação de Smaug
  3. Até o Fim
  4. O Grande Herói
  5. Universidade Monstros
  6. Capitão Phillips
  7. Além da Escuridão - Star Trek
  8. Ernest & Célestine
  9. Spring Breakers - Garotas Perigosas
  10. Rush - No Limite da Emoção
  11. O Homem de Aço
  12. Frozen - Uma Aventura Congelante
  13. Jogos Vorazes: Em Chamas
  14. Guerra Mundial Z
  15. The World's End

MELHOR MIXAGEM DE SOM

Quem venceu: Gravidade

Já nessa categoria eu não tenho certeza se daria o prêmio para Gravidade. Tudo bem que a distribuição dos efeitos sonoros, da trilha musical e das vozes semi-filtradas de Sandra Bullock e George Clooney é impecável, e mereceu sem dúvida a indicação. Mas tratou-se de um trabalho posterior à gravação (ou fabricação, no caso) dos sons, e a maior parte do mérito pelo som impactante do filme deve-se aos editores, e não aos mixadores, cuja tarefa, entre as poucas faixas de áudio e a escassez de diálogos e personagens, foi relativamente simples se comparada àquela realizada, por exemplo, em Rush, onde foi necessário registrar e equilibrar o ruído dos automóveis a toda velocidade com os vários sons do autódromo, as comunicações entre os pilotos e as equipes, as vozes em off dos radialistas, a música energética de Hans Zimmer, e por vezes até o som da chuva e dos fenômenos climáticos. Tivemos também as paisagens sonoras complexas de O Grande Herói, que incluía tiros, choques mecânicos e transmissões de rádio, além das constantes conversas entre os personagens, e A Desolação de Smaug, que poderia até levar o troféu se o filme se resumisse ao encontro climático dos personagens com o dragão nominal. Essa categoria tende a valorizar filmes com música, já que canções representam um particular desafio para os mixadores, o que me leva a crer que uma vitória de Inside Llewyn Davis ou indicações para A Um Passo do Estrelato e Frozen não teriam sido injustas. Filmar na água também exige um esforço extra na captura de áudio, justificando a indicação de Capitão Phillips, que de quebra ainda chamou atenção ao enfocar trocas de tiros, atividades de carga e descarga naval, discussões barulhentas em espaços confinados, e a abordagem agressiva e sonora da Marinha americana aos piratas somalianos. No geral, um ano forte o suficiente para que trabalhos ótimos como 12 Anos de Escravidão e Ela tenham passado quase despercebidos.

Quem eu indicaria (em ordem de preferência; indicados ao Oscar sublinhados)

  1. Rush - No Limite da Emoção
  2. Inside Llewyn Davis - Balada de um Homem Comum
  3. Gravidade
  4. Capitão Phillips
  5. O Grande Herói
  6. A Um Passo do Estrelato
  7. O Hobbit: A Desolação de Smaug
  8. Frozen - Uma Aventura Congelante
  9. Até o Fim
  10. O Grande Gatsby
  11. Universidade Monstros
  12. Ela
  13. Além da Escuridão - Star Trek
  14. 12 Anos de Escravidão
  15. Spring Breakers - Garotas Perigosas

MELHORES EFEITOS VISUAIS

Quem venceu: Gravidade

Esse foi um daqueles anos em que o avanço tecnológico representado por um dos indicados foi tão grande e marcante que a possibilidade de algum suspense preceder o anúncio do vencedor era nula. (Também tivemos isso recentemente com Avatar, As Aventuras de Pi e a trilogia O Senhor dos Anéis.) O que não significa que os concorrentes de Gravidade também não tenham feito bonito: filmes como Além da Escuridão - Star Trek, Círculo de Fogo e A Desolação de Smaug poderiam ter feito uma briga acirrada pelo prêmio caso Gravidade não existisse. (Ops, peraí: Círculo de Fogo não foi indicado. Ah, mas teria sido se o lugar de Gravidade estivesse vago, então dá na mesma.) Tivemos vários filmes com excelentes "efeitos de apoio", a exemplo de Rush, Até o Fim e a zebra O Cavaleiro Solitário, cuja indicação nem foi tão incompreensível assim. Homem de Ferro 3 conseguiu, ao encenar uma batalha final envolvendo várias versões diferentes da armadura de Tony Stark, que seus efeitos fossem ainda mais empolgantes que os de seus dois antecessores; Em Chamas concebeu uma arena que quase assumiu o status de personagem à parte e deu ao filme a oportunidade de explorar cenários digitais diversos; Universidade Monstros teve momentos de fotorrealismo quase tão inacreditável quanto aquele do curta-metragem que o precedeu nos cinemas, O Guarda-Chuva Azul (que, se tivesse a duração de um longa, teria possivelmente representado um avanço tão significativo quanto Gravidade). E Gravidade... bom, não há muito o que falar sobre Gravidade que já não foi dito e repetido; se muitos defenderiam e muitos outros contestariam que ele foi um marco na história do cinema, é um fato objetivo que ele foi um marco na história dos efeitos visuais. (Nota: não vi Oblivion, nem Elysium. Aliás, comecei a ver os dois, mas por razões pessoais perfeitamente compreensíveis, dormi no meio de ambos.)

Quem eu indicaria (em ordem de preferência; indicados ao Oscar sublinhados)

  1. Gravidade
  2. O Hobbit: A Desolação de Smaug
  3. Além da Escuridão - Star Trek
  4. Círculo de Fogo
  5. O Homem de Aço
  6. Homem de Ferro 3
  7. Universidade Monstros
  8. Ender's Game - O Jogo do Exterminador
  9. Jogos Vorazes: Em Chamas
  10. O Cavaleiro Solitário
  11. Rush - No Limite da Emoção
  12. Guerra Mundial Z
  13. Até o Fim
  14. O Ataque



E é isso. Essa postagem está chegando bem atrasada, mas, bom... é, eu não tenho como me defender. Em todo caso, agradeço a paciência do leitor, e nos vemos da próxima vez que eu cismar de escrever uma crítica para algum filme.

domingo, 2 de março de 2014

Previsões apressadas para o Oscar

MELHOR FILME: 12 Anos de Escravidão
MELHOR DIRETOR: Alfonso Cuarón, Gravidade
MELHOR ATOR: Matthew McConaughey, Clube de Compras Dallas
MELHOR ATRIZ: Cate Blanchett, Blue Jasmine
MELHOR ATOR COADJUVANTE: Jared Leto, Clube de Compras Dallas
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: Lupita Nyong'o, 12 Anos de Escravidão
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL: Ela
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO: 12 Anos de Escravidão
MELHOR FILME DE ANIMAÇÃO: Frozen: Uma Aventura Congelante
MELHOR FILME ESTRANGEIRO: A Grande Beleza
MELHOR DOCUMENTÁRIO: O Ato de Matar ou A Um Passo do Estrelato, não consigo me decidir
MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO: Gravidade
MELHOR FOTOGRAFIA: Gravidade
MELHOR FIGURINO: O Grande Gatsby
MELHOR MONTAGEM: Gravidade
MELHOR MAQUIAGEM E PENTEADO: Clube de Compras Dallas
MELHOR TRILHA SONORA: Gravidade
MELHOR CANÇÃO ORIGINAL: "Let It Go", de Frozen
MELHOR EDIÇÃO DE SOM: Gravidade
MELHOR MIXAGEM DE SOM: Gravidade
MELHORES EFEITOS VISUAIS: Gravidade
MELHOR CURTA-METRAGEM: The Voorman Problem
MELHOR CURTA, ANIMAÇÃO: É Hora de Viajar
MELHOR CURTA, DOCUMENTÁRIO: The Lady in Number 6: Music Saved My Life

Seja o que Deus quiser.

Update: acertei 21 de 24 (a menos que o meu palpite dúbio sobre Melhor Documentário seja desconsiderado). Não foi ruim.