domingo, 16 de dezembro de 2012

Awards Season Report #001

N. do A.: Esse texto foi escrito no dia 13 de dezembro e só foi publicado hoje graças a problemas de conexão com a internet. Portanto, não são levadas em consideração premiações posteriores ao dia da redação.

Uma das minhas maiores fraquezas como entusiasta cinematográfico é que eu realmente me importo com a temporada de premiações nos EUA, desde que assisti ao Oscar pela primeira vez em 2008. (Foi isso, admito, que engatilhou o meu interesse por cinema.) Apesar disso, eu nunca tinha acompanhado atentamente o longo percurso de premiações que se estende do final de novembro até o dia da cerimônia-mor entre fevereiro e março porque não me importava tanto assim; no máximo, eu me preocupava em seguir o buzz em torno dos filmes para os quais estava torcendo (em geral os filmes da Pixar) e algumas categorias específicas como Filme de Animação e Canção Original (estranho, eu sei).

Esse ano, porém, tudo mudou. Agora que eu estou efetivamente a par não só da recepção crítica de praticamente todos os filmes relevantes como do barulho que se tem feito em cima deles — e isso tudo desde o começo da temporada —, eu posso afirmar com segurança que estou por dentro da Oscar season. Por isso e porque eu tenho pensado em incluir uma coluna fixa nesse blog, eu resolvi criar essa série chamada "Awards Season Report", em que farei um apanhado da situação geral da temporada de prêmios para quem estiver interessado (insira ruído de grilos aqui). Lembrando sempre que eu não tive como ver a grande maioria dos filmes dos quais falo (uma desgraça pessoal, claro), e que as informações aqui contidas são baseadas no buzz, nos prêmios e no resultado entre a crítica.

O Oscar é, obviamente, o centro do sistema solar, e as cotações dos filmes dizem respeito ao seu potencial "oscárico", portanto premiações de grande magnitude como o BAFTA, o SAG Awards e o PGA serão tratados apenas como indicadores confiáveis. (O Globo de Ouro não é muito importante. Essa é mais ou menos a regra #1 da temporada do Oscar.) Antes de ser um termômetro para o Oscar, porém, esta coluna será um resumo da temporada de premiações como um todo. Divirtam-se.

MELHOR FILME

A Hora Mais Escura e Lincoln, este em vantagem pela indicação ao SAG de Melhor Elenco, têm sido os mais favorecidos em outras premiações do circuito (sendo que o filme de Kathryn Bigelow ganhou praticamente todos os prêmios da crítica), e ainda há o oscartástico Os Miseráveis, que não estreou oficialmente ainda mas já anda acumulando avaliações favoráveis e indicações. Os ex-favoritos Argo e O Lado Bom da Vida correm por fora e suas indicações ainda são praticamente certas. A única outra certeza na corrida é o novo Ang Lee, As Aventuras de Pi; todos os outros concorrentes são ainda incertos, ocasionando uma das maiores bolhas dos últimos anos. O Mestre perdeu bastante tração e os independentes Moonrise Kingdom e Indomável Sonhadora (ugh, odeio este nome) continuam comendo pelas beiradas com certa estabilidade. O Django Livre de Tarantino tem se saído bem, mas ainda é uma incógnita. A possível décima lacuna que antes pertencia a O Mestre tem pulado entre diversos filmes ultimamente, graças a indicações ecléticas nos vários prêmios com dez indicados. Colocando em perspectiva:

Favoritos
1. Lincoln ***********
2. A Hora Mais Escura +*++++*+*******
3. Os Miseráveis *********

Boas chances
4. Argo ****+********
5. O Lado Bom da Vida ***********
6. As Aventuras de Pi *****+*

Correndo por fora
7. Indomável Sonhadora *******
8. Django Livre ******
9. Moonrise Kingdom *********

Na luta
10. O Mestre *****
11. Amour +*
12. 007: Operação Skyfall **
13. O Impossível **
14. O Exótico Hotel Marigold **

Azarões
15. Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge *
16. Looper *
17. As Vantagens de Ser Invisível *
18. As Sessões *
19. Promised Land *
20. Os Vingadores *

MELHOR DIRETOR

A corrida está semelhante à de Melhor Filme, como de costume, mas com uma diferença: o favoritismo de Spielberg aqui é sobrepujado pelos de Bigelow e Affleck, e ele se iguala a Tom Hooper como um provável indicado e só. A grande dúvida reside na quinta posição, que é disputada entre Ang Lee e David O. Russell, com a balança pendendo alguma coisa para o lado do primeiro. Paul Thomas Anderson, antes tido como grande candidato ao prêmio, caiu junto com seu filme e terá que ficar muito feliz com uma indicação. Colocando em perspectiva:

Favoritos
1. Kathryn Bigelow, A Hora Mais Escura +*+++*+*++*****
2. Ben Affleck, Argo **+*****

Boas chances
3. Steven Spielberg, Lincoln *****
4. Tom Hooper, Os Miseráveis ***

Correndo por fora
5. Ang Lee, As Aventuras de Pi ****+*
6. David O. Russell, O Lado Bom da Vida ****
7. Paul Thomas Anderson, O Mestre *+**

Na luta
8. Quentin Tarantino, Django Livre **
9. Wes Anderson, Moonrise Kingdom *
10. Benh Zeitlin, Indomável Sonhadora *

Azarões
11. Juan Antonio Bayona, O Impossível *
12. Michael Haneke, Amour
13. Ben Lewin, As Sessões *
14. Christopher Nolan, Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge
15. Sarah Polley, Entre o Amor e a Paixão *

MELHOR ATRIZ

A competição esse ano está tépida, mas por outro lado muito acirrada. É difícil precisar uma favorita quando a única indicação são os desconfiáveis prêmios da crítica, mas atualmente parece ser uma disputa a unha entre Jennifer Lawrence e Jessica Chastain — a segunda tem mais prêmios até agora, mas a primeira conta com imensa popularidade. A pequena Quvenzhané Wallis tem potencial para surpreender, e Naomi Watts parece cada vez mais garantida entre as indicadas. Já a quinta candidata é uma incógnita, com o posto alternando entre várias atrizes nos prêmios recentes, mas a francesa Emmanuelle Riva parece a aposta mais segura. Colocando em perspectiva:

Favoritas
1. Jennifer Lawrence, O Lado Bom da Vida **+******+*
2. Jessica Chastain, A Hora Mais Escura *+++*******

Boas chances
3. Naomi Watts, O Impossível *****
4. Quvenzhané Wallis, Indomável Sonhadora ***
5. Emanuelle Riva, Amour **+++*

Correndo por fora
6. Helen Mirren, Hitchcock ****
7. Marion Cotillard, Ferrugem e Osso ****
8. Rachel Weisz, The Deep Blue Sea +*

Na luta
9. Keira Knightley, Anna Karenina *
10. Michelle Williams, Entre o Amor e a Paixão +*
11. Mary Elizabeth Winstead, Smashed *

Azaronas
12. Maggie Smith, Quartet *
13. Judi Dench, O Exótico Hotel Marigold *
14. Laura Linney, Hyde Park on Hudson *
15. Meryl Streep, Um Divã Para Dois *

MELHOR ATOR

Uma das categorias mais fáceis do ano, talvez a mais fácil: a essa altura, pelo menos, é difícil algum outro concorrente sequer avistar Daniel Day-Lewis, que, graças ao combo Abraham Lincoln + Steven Spielberg + ele mesmo, tem sido o favorito desde que o filme foi anunciado. A disputa é pelo segundo lugar, e embora seja ainda cedo pra falar, Hugh Jackman parece ser o mais cotado para ocupá-lo, com o surpreendente Bradley Cooper na sua cola. O problema aqui é que são apenas 5 indicados, o que torna necessária a eliminação de um dos outros três ocupantes do pelotão-de-frente. Dada a rejeição a O Mestre, é mais provável que este seja o bocudo Joaquin Phoenix (que falou mal do Oscar faz um tempinho), mas é muito difícil dizer. Colocando em perspectiva:

Favoritos
1. Daniel Day-Lewis, Lincoln +*+++++*****+*

Boas chances
2. Hugh Jackman, Os Miseráveis *******
3. Bradley Cooper, O Lado Bom da Vida *+******

Correndo por fora
4. John Hawkes, As Sessões *********
5. Denzel Washington, Flight ******
6. Joaquin Phoenix, O Mestre **+******

Na luta
7. Bill Murray, Hyde Park on Hudson **
8. Anthony Hopkins, Hitchcock *
9. Denis Lavant, Holy Motors **
10. Richard Gere, A Negociação *

Azarões
11. Jamie Foxx, Django Livre *
12. Jean Louis Trintignant, Amour
13. Jack Black, Bernie *
14. Ben Affleck, Argo
15. Omar Sy, Intocáveis *

MELHOR ATOR COADJUVANTE

Se no ano passado essa categoria era uma imensa marmelada (Christopher Plummer), esse ano ela está muito perto da indefinição total. Com múltiplos concorrentes muito fortes e nenhum que tenha se sobressaído nos prêmios da temporada, este é um ano em que muitos dos que batalham por uma indicação seriam considerados favoritos à estatueta em temporadas mais fracas. O jeito é ir pela observação e apostar naqueles cujos filmes são mais populares — menos mau para Tommy Lee Jones, que terá uma fração de favoritismo ante nomes fortes como Alan Arkin e Philip Seymour Hoffman e Christoph Waltz e Robert De Niro e Javier Bardem (cacilda). Colocando em perspectiva:

Favoritos
1. Tommy Lee Jones, Lincoln *+*+*****+*
2. Philip Seymour Hoffman, O Mestre *+******

Boas chances
3. Christoph Waltz, Django Livre **+**
4. Robert De Niro, O Lado Bom da Vida *****
5. Alan Arkin, Argo ******
5. Matthew McConaughey, Magic Mike +**
5. Javier Bardem, 007: Operação Skyfall *****
8. Leonardo DiCaprio, Django Livre +**
8. Ezra Miller, As Vantagens de Ser Invisível +**

Correndo por fora
10. Dwight Henry, Indomável Sonhadora +
11. Eddie Redmayne, Os Miseráveis *
12. John Goodman, Argo *
12. John Goodman, Flight *
14. Ewan McGregor, O Impossível *

Na luta
15. Russell Crowe, Os Miseráveis
16. William H. Macy, As Sessões *
17. Jude Law, Anna Karenina

Azarões
18. Bruce Willis, Moonrise Kingdom *
19. Christopher Walken, Sete Psicopatas e um Shih Tzu *
20. Jim Broadbent, A Viagem
21. Tom Hardy, Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge
22. Jason Clarke, A Hora Mais Escura
23. Michael Peña, Marcados Para Morrer
24. Andy Serkis, O Hobbit: Uma Jornada Inesperada

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE

Muitos diriam que esse prêmio já pertence a Anne Hathaway, e realmente ela já está com uma mão na estatueta, mas essa categoria ainda está longe da definição. Sally Field é uma ameaça a ser levada em conta, e não se pode desprezar a força de Amy Adams e Helen Hunt. Além disso, o alto nível esse ano impede que haja uma quinta colocada sólida, ainda mais agora que Nicole Kidman começou a ser indicada a prêmios. Colocando em perspectiva:

Favoritas
1. Anne Hathaway, Os Miseráveis *++**+*****+*
2. Sally Field, Lincoln +*+******

Boas chances
3. Helen Hunt, As Sessões ********
4. Amy Adams, O Mestre **+*****

Correndo por fora
5. Ann Dowd, Compliance +***
6. Nicole Kidman, The Paperboy **
7. Maggie Smith, O Exótico Hotel Marigold *
7. Emma Watson, As Vantagens de Ser Invisível *+**
9. Judi Dench, 007: Operação Skyfall ***

Na luta
10. Samantha Barks, Os Miseráveis **
11. Jacki Weaver, O Lado Bom da Vida

Azaronas
12. Rebel Wilson, A Escolha Perfeita *
13. Lorraine Toussant, Middle of Nowhere
14. Kerry Washington, Django Livre
15. Kristen Stewart, Na Estrada
16. Kelly Reily, Flight

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL

Uma categoria interessante, visto que a maioria dos roteiros bem-cotados esse ano são adaptados. Seria fácil enxergar A Hora Mais Escura como favorito, mas esse só será o caso se o filme também reinar nas categorias principais, como foi com Guerra ao Terror. A Academia tende a dar essa estatueta como um prêmio de consolação a filmes sem chance na disputa de Melhor Filme, e esse cenário favorece filmes polarizadores como O Mestre e produções de gênero como Moonrise Kingdom e o premiado Looper. E dado o histórico de amor/ódio a Tarantino, a maior chance de Django Livre é a de ser indicado sem vencer. Se isso acontecer, os cinco indicados já estão praticamente definidos, mas é preciso ficar atento aos vários outros cartazes com potencial. Colocando em perspectiva:

Favoritos
1. O Mestre, Paul Thomas Anderson **+**
2. Looper, Rian Johnson ++*+
3. A Hora Mais Escura, Mark Boal **+****

Boas chances
4. Moonrise Kingdom, Wes Anderson e Roman Coppola *******
5. Django Livre, Quentin Tarantino *****

Correndo por fora
6. Flight, John Gatins **
7. Amour, Michael Haneke
8. Sete Psicopatas e um Shih Tzu, Martin McDonagh *

Na luta
9. O Segredo da Cabana, Joss Whedon e Drew Goddard ***
10. Intocáveis, Eric Toledano e Olivier Nakache *
11. A Negociação, Nicholas Jarecki *
12. Entre o Amor e a Paixão, Sarah Polley **

Azarões
13. Middle of Nowhere, Ava DuVernay
14. Magic Mike, Steven Soderbergh
15. Valente, Mark Andrews, Brenda Chapman, Steve Purcell e Irene Mecchi

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO

Os resultados da temporada têm sido mais ou menos heterogêneos, mas Lincoln ainda é o favorito indiscutível. Argo e O Lado Bom da Vida completam a dianteira, e entre os dois outros prováveis indicados há a zebra do ano, As Vantagens de Ser Invisível, que, graças a ótimos resultados em prêmios da crítica, tem sido capaz até mesmo de ultrapassar As Aventuras de Pi como a quarta opção mais confiável. Candidatos ao prêmio principal, como Os Miseráveis e Indomável Sonhadora, só devem entrar se tiverem muito amor entre os votantes, mas não é impossível que um deles tome a quinta posição da frágil extravaganza diretorial de Ang Lee. Colocando em perspectiva:

Favoritos
1. Lincoln, Tony Kushner +*+*+*****
2. Argo, Chris Terrio **++****
3. O Lado Bom da Vida, David O. Russell *++*******

Boas chances
4. As Vantagens de Ser Invisível, Stephen Chbosky ******
5. As Aventuras de Pi, David Magee *****

Correndo por fora
6. Os Miseráveis, William Nicholson *
7. Indomável Sonhadora, Benh Zeitlin e Lucy Alibar *

Na luta
8. As Sessões, Ben Lewin *
9. This Is 40, Judd Apatow
10. Anna Karenina, Tom Stoppard *
11. Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge, Christopher e Jonathan Nolan

Azarões
12. A Viagem, Lana e Andy Wachowski e Tom Tykwer
13. Bernie, Skip Hollandsworth e Richard Linklater
14. O Exótico Hotel Marigold, Ol Parker
15. 007: Operação Skyfall, Neal Purvis, Robert Wade e John Logan

MELHOR FILME DE ANIMAÇÃO

Um dos anos mais fracos da história da categoria, sem nenhum favorito claro e bons argumentos a favor de quase todos os candidatos principais. Valente tem a vantagem de ser da Pixar, o que, se não assegura uma vitória, ainda move montanhas para um filme que teve sucesso de público e crítica apenas razoável. Ainda assim, pode-se argumentar que a dianteira é de Frankenweenie, por ser uma excelente oportunidade de dar o primeiro Oscar a Tim Burton. E apesar disso tudo, ParaNorman é o que tem se dado melhor nos prêmios da crítica, e Detona Ralph é provavelmente o que goza de maior popularidade. Até mesmo a quinta indicação é uma incógnita: se muitos diriam que A Origem dos Guardiões é a escolha mais segura, a Academia ainda adora dar reconhecimento a produções estrangeiras, o que favorece The Painting e O Gato do Rabino, e há ainda Hotel Transilvânia, que, apesar do fracasso de crítica, continua sendo a estreia cinematográfica do amado-por-todos Genndy Tartakovsky. Colocando em perspectiva:

Favoritos
1. Frankenweenie *+**++*****
2. Valente ********
3. ParaNorman **++*+***+
3. Detona Ralph **+******

Boas chances
5. A Origem dos Guardiões *******
5. O Gato do Rabino *
7. The Painting

Correndo por fora
8. Hotel Transilvânia **
9. Madagascar 3: Os Procurados **
10. Piratas Pirados! *

Na luta
11. From Up on Poppy Hill
12. O Lórax

Azarões
13. A Era do Gelo 4 *
14. Monty Python: A Autobiografia de um Mentiroso
15. Todas as outras produções internacionais

MELHOR DOCUMENTÁRIO

Categoria difícil de prever, todos os anos, graças à maluquice do comitê isolado que vota nos indicados e vencedores e à sempre imensa quantidade de candidatos fortes. Para comprovar isso, é só verificar que, mesmo com a morte por shortlist de nomes de peso como The Central Park Five, Jiro Dreams of Sushi e The Queen of Versailles, a corrida continua apertadíssima. Enquanto a Academia não expande o número de indicados para dez, porém, é mais sensato afirmar que os favoritos são Searching for Sugar Man e Bullying, com The Gatekeepers e How to Survive a Plague fazendo figa. A última vaga pode ir para vários concorrentes de segundo pelotão, mas a dianteira, eu diria, é de Mea Maxima Culpa, pelo tema explosivo (Igreja Católica e pedofilia). Colocando em perspectiva:

Favoritos
1. Searching for Sugar Man *+******
2. Bullying +****+

Boas chances
3. How to Survive a Plague ++*
4. The Gatekeepers **+

Correndo por fora
5. Mea Maxima Culpa: Silence in the House of God
6. The Invisible War **+
7. The Imposter ***
8. Ai Weiwei: Never Sorry ***
9. The House I Live In *

Na luta
10. Isto Não É um Filme
11. Detropia *
12. The Waiting Room

Azarões
13. Chasing Ice *
14. Ethel
15. 5 Broken Cameras

[AS DEMAIS CATEGORIAS TERÃO COMENTÁRIOS CURTOS DE APENAS DEZ PALAVRAS]

MELHOR FILME ESTRANGEIRO

O comitê isolado é imprevisível. Pulo. (Mas Amour é imbatível.)

MELHOR FOTOGRAFIA

Todos torcem para Roger Deakins, mas será difícil bater Pi.

1. As Aventuras de Pi, Claudio Miranda *+*++***+
2. 007: Operação Skyfall, Roger Deakins
*+*+****
3. O Mestre, Mihai Malaimare Jr.
***+***
4. Lincoln, Janusz Kaminski
***
5. Os Miseráveis, Danny Cohen
****
6. A Hora Mais Escura, Greig Fraser +**
7. Indomável Sonhadora, Ben Richardson ***
8. Django Livre, Robert Richardson **
9. Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge, Wally Pfister
10. A Viagem, Frank Griebe e John Toll *

MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO

Novo nome, velhos critérios: quanto mais pompa, melhor (Os Miseráveis).

1. Os Miseráveis, Eve Stewart e Anna Lynch-Robinson *****
2. Anna Karenina, Sarah Greenwood e Katie Spencer
*****
3. A Viagem, Hugh Bateup e Uli Hanisch e Rebecca Alleway e Peter Walpole
++*
4. Lincoln, Rick Carter e Jim Erickson
***
5. O Hobbit: Uma Jornada Inesperada, Dan Hennah, Ra Vincent e Simon Bright
**
6. Moonrise Kingdom, Adam Stockhausen e Kris Moran ****
7. As Aventuras de Pi, David Gropman e Anna Pinnock *
8. O Mestre, Jack Fisk e Amy Wells *+
9. Prometheus, Alex Cameron e Sonja Klaus +
10. Argo, Sharon Seymour e Jan Pascale *

MELHOR TRILHA SONORA

Prêmio de consolação para O Mestre. Indicação dupla para Desplat?

1. O Mestre, Jonny Greenwood *++*+*
2. As Aventuras de Pi, Mychael Danna
***+*
3. Lincoln, John Williams
*****
4. Argo, Alexandre Desplat
****
5. Indomável Sonhadora, Dan Romer e Benh Zeitlin
**+**
6. Moonrise Kingdom, Alexandre Desplat ****
7. Anna Karenina, Dario Marianelli **
8. A Viagem, Tom Tykwer, Johnny Klimek e Reinhold Heil **
9. 007: Operação Skyfall, Thomas Newman **
10. O Hobbit: Uma Jornada Inesperada, Howard Shore *

MELHOR MONTAGEM

Difícil. Thrillers "sérios" como Argo e Hora... geralmente têm vantagem.

1. A Hora Mais Escura, William Goldenberg e Dylan Tichenor *+++***+
2. Argo, William Goldenberg
**+**
3. Os Miseráveis, Melanie Ann Oliver e Chris Dickens
**
4. As Aventuras de Pi, Tim Squyres
***
5. Lincoln, Michael Kahn
*
6. O Mestre, Leslie Jones e Peter McNulty *
7. O Lado Bom da Vida, Jay Cassidy *
8. Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge, Lee Smith *
9. A Viagem, Alexander Berner *
10. 007: Operação Skyfall, Stuart Baird *

MELHOR MAQUIAGEM

Três indicados, poucos indicadores. A Viagem?

1. A Viagem *
2. O Hobbit: Uma Jornada Inesperada
*
3. Os Miseráveis
*
4. Lincoln *
5. Hitchcock
6. Homens de Preto 3

MELHOR FIGURINO

Anna Karenina leva: é mais espalhafatoso. Ver Design de Produção.

1. Anna Karenina, Jacqueline Durran ***+
2. Os Miseráveis, Paco Delgado
***
3. O Hobbit: Uma Jornada Inesperada, Bob Buck, Ann Maskrey e Richard Taylor
**
4. Lincoln, Joanna Johnston
**
5. A Royal Affair, Manon Rasmussen
**
6. A Viagem, Kym Barrett e Pierre-Yves Gayraud **
7. Branca de Neve e o Caçador, Colleen Atwood *
8. Espelho, Espelho Meu, Eiko Ishioka
9. Hitchcock, Julie Weiss
10. Moonrise Kingdom, Kasia Walicka-Maimone

MELHORES EFEITOS VISUAIS

Pi leva fácil. A grande questão é: Prometheus ou Batman?

1. As Aventuras de Pi ****+
2. A Viagem
****
3. O Hobbit: Uma Jornada Inesperada
**
4. Os Vingadores
***
5. Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge
**
6. Prometheus ***
7. Branca de Neve e o Caçador *
8. 007: Operação Skyfall *
9. John Carter
10. O Espetacular Homem-Aranha

MELHOR EDIÇÃO DE SOM

Não há nenhuma indicação confiável a essa altura, nem nunca.

MELHOR MIXAGEM DE SOM

A categoria mais nublada, todo ano. Super-heróis ou cantoria?

MELHOR CANÇÃO ORIGINAL

Antes imprevisível; agora, com as novas regras, Skyfall é certeza.

1. "Skyfall", de 007: Operação Skyfall ***+*
2. "Suddenly", de Os Miseráveis
****
3. "Learn Me Right", de Valente
***
4. "For You", de Ato de Valor
**
5. "Still Alive", de Paul Williams Still Alive
**
6. "When Can I See You Again", de Detona Ralph *
7. "Not Running Anymore", de Stand Up Guys *
8. "Love Always Comes as a Surprise", de Madagascar 3: Os Procurados *
9. "Everybody Needs a Best Friend", de Ted
10. "Safe & Sound", de Jogos Vorazes **


Legenda

*Indicado ao Grammy. Assim como o Oscar tem um prêmio para músicas, o Grammy tem um prêmio para filmes. Claro, como é o Grammy, os indicados quase sempre são da autoria de artistas pop da moda. Ugh.
*Indicado ao Annie. Prêmio para animações; por algum tempo, foi o quintal da DreamWorks. Não é levado a sério, mas dá pra ajudar um pouco nas previsões.
+Vencedor do NYFCC Award. O Círculo de Críticos de Nova York. O sistema de votação é tão burocrático e complicado que às vezes o segundo mais votado vence.
*Indicado ao Satellite Award. Ninguém sabe qual é a dessa tal de Academia de Imprensa Internacional, mas eles fazem esse prêmio todo ano com seis ou sete indicados por categoria.
+Vencedor do National Board of Review Award. O prêmio da crítica dos prêmios da crítica. Como em todo prêmio da crítica, os vencedores são incomuns e quase nada têm a ver com o Oscarômetro.
*Incluído numa lista da NBR. A National Board of Review também faz listas dos melhores do ano, para compensar a falta de indicados.
+Vencedor do BOFCA Award. Os críticos online de Boston resolveram fundar uma associação esse ano. Ninguém sabe qual é a deles ainda.
*Incluído no Top 10 do BOFCA. A mesma associação resolveu também incluir uma lista dos dez melhores do ano na sua premiação.
+Vencedor do/*Indicado ao WAFCA Award. Críticos da capital americana; se uniram faz pouco tempo. Os indicados não são lá especiais, mas pelo menos indicados.
+Vencedor do/*Indicado ao LAFCA Award. Mais um da crítica. Esses sabem o que dizem: são lá de Los Angeles. Uma dessas premiações em que anuncia-se o vencedor e mais um "segundo colocado".
+Vencedor do/*Indicado ao BSFC Award. Também críticos, também de Boston, mas esse é outro prêmio. O sistema é igual ao do de Los Angeles: vencedor e segundo colocado.
+Vencedor do/*Indicado ao SDFCS Award. A sigla é informal. Os críticos de San Diego fazem escolhas interessantes para os indicados. Esse ano, eles adoraram Argo.
+Vencedor do NYFCO Award. Críticos de Nova York também têm sua própria premiação online. Infelizmente, eles não listam indicados (esses nova-iorquinos...).
*Incluído no Top 10 do AFI. O Instituto do Filme Americano faz anualmente uma lista em ordem alfabética dos dez melhores do ano. Bom indicador, mas sempre há uma escolha improvável (esse ano, Batman).
*Indicado ao SLFC Award. Críticos de St. Louis. Cobrem vários campos e têm pelo menos uma categoria interessante (Melhor Cena), mas o press release tinha vários errinhos (JOSH Whedon).
*Indicado ao Critics Choice Award. Apesar do nome, este não é bem um prêmio da crítica: a maior preocupação dos votantes é que os seus indicados se assemelhem aos do Oscar. Trata-se, pois, do melhor termômetro disponível.
*Indicado ao PFCS Award. Críticos de Phoenix. Moram no Arizona e parecem ter a pretensão de se tornar um bom termômetro para o Oscar.
*Indicado ao DFCS Award. Críticos de Detroit; premiam só os essenciais. Nada de firulas. Nada de oitos. Dieta da sopa. Embalado a vácuo. Você entende onde quero chegar.
*Indicado ao SAG Award. Prêmio do Sindicato dos Atores — uma referência obrigatória. Como só premia atores, os concorrentes a Melhor Filme marcados são os que foram indicados a Melhor Elenco. É quase impossível ganhar sem isso.
+Vencedor do LVFCS Award. Outro prêmio da crítica, dessa vez de Las Vegas. Não é a toa que adoraram As Aventuras de Pi: tem um tigre no filme.
*Incluído no Top 10 do LVFCS. Mais um Top 10.
*Indicado ao Globo de Ouro. Há duas coisas que você precisa saber sobre o Globo de Ouro: eles são obcecados por "lendas" e não sabem o que é uma comédia.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Resenha 13: "Cinco Anos de Noivado", de Nicholas Stoller

Emily Blunt e Jason Segel em Cinco Anos de Noivado. © Universal.
The Five-Year Engagement, EUA, 2012. Romance/Dramédia. 124 minutos. Direção: Nicholas Stoller. Escrito por: Jason Segel e Nicholas Stoller. Elenco: Jason Segel, Emily Blunt, Chris Pratt, Alison Brie, Rhys Ifans, Jacki Weaver, Jim Piddock, David Paymer, Mimi Kennedy, Mindy Kaling, Kevin Hart, Brian Posehn, Chris Parnell, Lauren Weedman, Tracee Chimo, Dakota Johnson, Randall Park. Classificação indicativa: A definir. R nos EUA.

(Ainda sem classificação indicativa no Brasil, mas, a julgar pelo conteúdo, será provavelmente 16 ou 18 anos. Aciono o A.S.I.R.)

Comédias românticas são um gênero complicado. Criticadas pela grande maioria delas se render facilmente aos clichês e resoluções fáceis, elas quase sempre têm que mirar o extremo oposto e desenvolver suas histórias de maneira tão crua e realista, sempre que cá e lá se esforçam para quebrar os preceitos batidos do gênero e fazer um relato mais maduro e sincero dos relacionamentos que abordam, que acabam por provocar a indiferença do espectador simplesmente pelo desprezo que sentimos pelos seus personagens, com suas falhas de caráter. Ora, um dos princípios incontornáveis da comédia romântica é justamente que precisamos conseguir torcer pelos personagens para nos importar com o que se sucede a eles. Assim, uma romcom só acerta o ponto quando consegue nos apresentar a personagens atraentes e desenhar seus arcos sem abrir mão da franqueza, o que, infelizmente, rareia. Qual não foi minha surpresa ao perceber, então, na segunda metade de Cinco Anos de Noivado, que eu não só torcia pelo final feliz de seus protagonistas, como ainda era capaz de sentir a dor e a felicidade intercaladas destes.

Claro, essa dramédia escrita pela mesma dupla de roteiristas de Os Muppets (haja versatilidade) vem do forno do produtor Judd Apatow (dê um Google), o que ajuda bastante. Mas Cinco Anos... vai além do escracho sofisticado de trabalhos como Missão Madrinha de Casamento e acaba se saindo uma das obras mais maduras do panteão de Apatow. O enredo já diz tudo: após ficarem noivos com apenas um ano de namoro, Tom (Segel) e Violet (Blunt) enfrentam uma série de barreiras de todos os tipos que os forçam a adiar cada vez mais o seu casamento, ao mesmo tempo em que se descobrem cada vez mais infelizes um com o outro. Poderia facilmente ser um melodrama pesado, mas é (no papel) uma comédia romântica. O diferencial aqui está na inteligência do roteiro, que, assim como no relativamente recente iraniano A Separação, aumenta a pressão sobre seus personagens gradativamente e extrai seus principais conflitos e curvas fechadas de decisões compreensíveis e até mesmo nobres destes. Dessa forma, Cinco Anos... se torna o estudo de um relacionamento complexo entre duas pessoas bem-intencionadas, e, graças à estruturação inteligente de seus personagens secundários, acaba sendo também, de maneira geral, uma desconstrução dos relacionamentos típicos de produções do gênero.

E a melhor parte dessa desconstrução é que o diretor, produtor e roteirista Stoller a conduz tendo como recurso constante algo que raramente se vê em produções como esta: sutileza. Assim, inicialmente nós acreditamos que o breve e errôneo envolvimento entre a irmã cética de Violet e o melhor amigo bobão de Tom será apenas uma dessas "decisões erradas feitas por pessoas embriagadas" com aparição pontual e cômica, mas Stoller nos surpreende ao jogar uma reviravolta sobre os dois coadjuvantes que os faz assumir a condição de um contraponto amargo para o relacionamento de Tom e Violet. O mesmo vale para os pais da noiva: se a maioria das comédias não resistiria a transformá-los em típicos "sogros divorciados", aqui eles são vistos de maneira realista, como a mãe de Violet confirma ao explicar para a filha que foi, na verdade, feliz em seu casamento. E reparem como a namorada troféu do pai de Violet dá lugar a outra nos minutos finais da projeção — um detalhe que confere honestidade ao clichê do ex-marido tarado.

Além de tudo, Stoller lança mão de uma série de simbolismos (isso mesmo: simbolismos!) para colorir a relação de Tom e Violet, indo do mais simples (percebam como a analogia dos donuts é usada para alterar repentinamente a imagem que temos de Tom) ao mais trabalhado (os relacionamentos pós-término em que os protagonistas se aventuram são repletos de detalhes sutis que mostram o quanto os dois erraram em se separar). O cartão-título é um dos mais brilhantes que já vi, sobrepondo a um pedido de casamento regado a fogos de artifício e um beijo hollywoodiano o sardônico letreiro "CINCO ANOS DE NOIVADO". E o que dizer da morte progressiva dos avós de Violet e Tom, que poderia tanto ser apenas um acréscimo de humor negro quanto conter uma leitura profunda sobre a chegada da idade adulta e o efeito que esta tem sobre o relacionamento dos dois?

É claro que toda essa ambição temática poderia comprometer o andamento narrativo do filme (ainda é, afinal, uma comédia romântica), e se por um lado a montagem acerta nas transições sofisticadas que destilam cada cena ao seu conteúdo essencial, por outro é inegável que uns quinze minutos a menos (são mais de duas horas) aumentariam o impacto do filme como um todo (apesar de me ocorrer a hipótese de a longa duração do filme ser perfeitamente intencional). Assim, Cinco Anos... acaba pecando por enfiar conteúdo demais em um só roteiro, e sou forçado a admitir que isso deixará muitas pessoas inquietas ou mesmo sonolentas, especialmente no terceiro ato. Ainda assim, eu sou muito mais um filme ambicioso com probleminhas de ritmo do que tantas outras romcoms que se preocupam apenas em divertir sem fazer pensar. Talvez seja por isso que essa produção teve sucesso apenas mediano: ela é boa demais, profunda demais para uma comédia romântica, a ponto de o humor às vezes parecer apenas um recurso para tornar o filme menos sério — o resultado disso é que cenas memoráveis como a discussão histérica entre o Elmo e o Come-Come (veja e entenderá) acabam ficando lado a lado com momentos dispensáveis como o acidente de cozinha sofrido pela Chef Sally.

Apesar de tudo, o filme ainda diverte bastante graças ao talento cômico dos atores — e, mais importante, consegue nos fazer cruzar os dedos pelo final feliz de Tom e Violet. E quando este finalmente chega, é de forma tão singela e emocionalmente honesta que nem de longe trai a melancolia que o resto do filme atingiu, apesar de ainda assim ser um momento absolutamente feliz. É uma representação da conquista do filme como um todo — e assim como Tom e Violet relembram ao longo dos anos o dia em que se conheceram, esse é um filme ao qual me vejo retornando muitas vezes. Não me lembro de ter me sentido assim com uma comédia romântica antes.

Classificação final: